Artigo - Rio + 20: impressões e expectativas
Texto por Tônia Andrea H. Dutra
Tive a
felicidade de poder participar da Rio + 20 e gostaria de compartilhar com vocês
algumas impressões e discutir as expectativas envolvidas em torno desse
histórico evento.
A Conferência,
como todos sabem, contemplou duas esferas de discussão: a oficial e a
extraoficial. É nesta última que se pode realmente sentir com intensidade a
força de um ideal coletivo, pois é na Cúpula dos Povos que reside o espírito da
Rio+20. Seja nos debates regidos por renomados intelectuais contemporâneos, nas
mobilizações das ONGs que promovem soluções sociais e ecológicas alternativas, nas
manifestações culturais mais legítimas das diferentes tribos, o que chamou a
atenção, foi a positividade, a união em torno de um propósito comum e a
capacidade de acreditar num futuro ecologicamente sustentável.
Quem partilha
desse ideal não ignora as dificuldades implicadas em um processo de
transformação de pensamento e de ação, como a que requer a crise ecológica (que
é também social, econômica, cultural, etc). E não se trata de uma postura
ingênua e apaixonada, pois embora haja paixão em suas atitudes ela não é cega.
Trata-se, antes, de pessoas que acreditam na criatividade da vida, na
capacidade de realização do ser humano, e no poder transformador que cada
indivíduo representa no resultado coletivo, quando entram em cena a
solidariedade, a colaboração, a partilha, o cuidado, forças capazes de transpor
os mais temíveis obstáculos.
Sobre a Rio+20 repousava
uma carga ainda maior de expectativas do que sua antecessora, a ECO-92, diante
das próprias perspectivas geradas a partir da primeira Conferência e pelo
agravamento das crises que afetam a humanidade neste início do novo século. A
urgência de soluções factíveis, de políticas concretas, de líderes que
manifestem a efetiva intenção de assumir responsabilidades relacionadas às
mudanças no sentido da sustentabilidade, não foi atendida à altura.
Arraigados ou
talvez atados à problemática econômica do mercado global, as lideranças
políticas e os possíveis financiadores da mudança de modelo de produção e
consumo (e mesmo de um reposicionamento ecológico sobre prioridades e valores a
serem considerados para oferecer vida de qualidade, digna e ecologicamente sustentável
para as gerações presentes e futuras), recolhem-se timidamente da arena
decisória, recuando, mesmo, de compromissos anteriormente firmados.
De minha parte,
entendo que o imediatismo do realismo político/econômico, este, sim, é cego.
Depara-se com desemprego em alta escala, mas inviabiliza as iniciativas de
pequenos produtores; ressente-se da falta de valor agregado nos produtos, mas
não dedica atenção e recursos a uma boa educação para suas crianças e jovens;
reclama da produtividade e competitividade agrícola afetada pelo clima, mas não
resguarda a biodiversidade ou preocupa-se em preservar as fontes de seus
mananciais; simula uma postura ética com relação à exploração no trabalho
dentro de seu território, mas promove a importação de produtos fabricados em
condições desumanas estimulando esse tipo de “comércio” criando, além disso,
uma concorrência desleal.
A impressão,
desse “lado” da Conferência, ao contrário do outro, é de tristeza, frustração,
desarmonia e medo.
A verdadeira
política, que provém de baixo, do engajamento dos indivíduos em pensamentos e
ações em prol do coletivo, do exercício da cidadania que extrapola fronteiras,
voltada para a harmonia do ecossistema no qual o homem se insere é que pode nos
dar, sim, esperanças e alegrias.
A cidadania
ecológica que se preocupa, pensa e age compromissada com a vida e o futuro felizmente
também está presente nessa Conferência, sob o título de Cúpula dos Povos, e é
com ela que podemos contar, e a partir dela é que podemos de fato fazer parte dessa
História.
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