terça-feira, 17 de julho de 2012

Artigo - Rio + 20: impressões e expectativas


Texto por Tônia Andrea H. Dutra

Tive a felicidade de poder participar da Rio + 20 e gostaria de compartilhar com vocês algumas impressões e discutir as expectativas envolvidas em torno desse histórico evento.

A Conferência, como todos sabem, contemplou duas esferas de discussão: a oficial e a extraoficial. É nesta última que se pode realmente sentir com intensidade a força de um ideal coletivo, pois é na Cúpula dos Povos que reside o espírito da Rio+20. Seja nos debates regidos por renomados intelectuais contemporâneos, nas mobilizações das ONGs que promovem soluções sociais e ecológicas alternativas, nas manifestações culturais mais legítimas das diferentes tribos, o que chamou a atenção, foi a positividade, a união em torno de um propósito comum e a capacidade de acreditar num futuro ecologicamente sustentável.

Quem partilha desse ideal não ignora as dificuldades implicadas em um processo de transformação de pensamento e de ação, como a que requer a crise ecológica (que é também social, econômica, cultural, etc). E não se trata de uma postura ingênua e apaixonada, pois embora haja paixão em suas atitudes ela não é cega. Trata-se, antes, de pessoas que acreditam na criatividade da vida, na capacidade de realização do ser humano, e no poder transformador que cada indivíduo representa no resultado coletivo, quando entram em cena a solidariedade, a colaboração, a partilha, o cuidado, forças capazes de transpor os mais temíveis obstáculos.

Sobre a Rio+20 repousava uma carga ainda maior de expectativas do que sua antecessora, a ECO-92, diante das próprias perspectivas geradas a partir da primeira Conferência e pelo agravamento das crises que afetam a humanidade neste início do novo século. A urgência de soluções factíveis, de políticas concretas, de líderes que manifestem a efetiva intenção de assumir responsabilidades relacionadas às mudanças no sentido da sustentabilidade, não foi atendida à altura.

Arraigados ou talvez atados à problemática econômica do mercado global, as lideranças políticas e os possíveis financiadores da mudança de modelo de produção e consumo (e mesmo de um reposicionamento ecológico sobre prioridades e valores a serem considerados para oferecer vida de qualidade, digna e ecologicamente sustentável para as gerações presentes e futuras), recolhem-se timidamente da arena decisória, recuando, mesmo, de compromissos anteriormente firmados.

De minha parte, entendo que o imediatismo do realismo político/econômico, este, sim, é cego. Depara-se com desemprego em alta escala, mas inviabiliza as iniciativas de pequenos produtores; ressente-se da falta de valor agregado nos produtos, mas não dedica atenção e recursos a uma boa educação para suas crianças e jovens; reclama da produtividade e competitividade agrícola afetada pelo clima, mas não resguarda a biodiversidade ou preocupa-se em preservar as fontes de seus mananciais; simula uma postura ética com relação à exploração no trabalho dentro de seu território, mas promove a importação de produtos fabricados em condições desumanas estimulando esse tipo de “comércio” criando, além disso, uma concorrência desleal. 

A impressão, desse “lado” da Conferência, ao contrário do outro, é de tristeza, frustração, desarmonia e medo.

A verdadeira política, que provém de baixo, do engajamento dos indivíduos em pensamentos e ações em prol do coletivo, do exercício da cidadania que extrapola fronteiras, voltada para a harmonia do ecossistema no qual o homem se insere é que pode nos dar, sim, esperanças e alegrias.

A cidadania ecológica que se preocupa, pensa e age compromissada com a vida e o futuro felizmente também está presente nessa Conferência, sob o título de Cúpula dos Povos, e é com ela que podemos contar, e a partir dela é que podemos de fato fazer parte dessa História.

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